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sexta-feira, março 04, 2005

No princípio... Agora e sempre!

Reviver o que a memória não deixou apagar
Ainda me lembro bem daquele tempo. Não passaram assim tantos anos. Quatro talvez. O Mestre costumava entrar na sala de aula da faculdade de Comunicação Social Hélio Alonso, onde tirei o curso de jornalismo, com o "diário escolar" - no ensino superior o diário ganha outro nome - numa das mãos e, na outra, um pequeno aparelho de som. Em aula, entre as lições de Redacção em TV e outros temas, Cole Porter ou Pixinguinha davam a sonoridade necessária ao bom ambiente e ao humor do professor sempre presente. Mas há poucos dias recebi a agradável, e literária, surpresa. Roberto M. Moura experimenta, uma vez mais, outra fase. O Mestre "reinventa" a roda.... de samba...
Ao ler "No princípio, era a roda", fico com a impressão de que o objectivo do trabalho é dinamizar o conhecimento popular da raiz do verdadeiro samba, das histórias, dos primeiros contactos com o seu meio e dos aspectos que mais movimentam o imaginário colectivo em relação ao tema apresentado. Com estatutos bem definidos de crítico musical, produtor/director de espectáculos e jornalista, do “sambista” Roberto M. Moura pode-se esperar de tudo. Um verdadeiro especialista em cultura popular, sem falar da sua dádiva em relação ao conhecimento do samba. E é neste livro que essa sua faceta fica mais explícita. Depois de uma breve, porém atenta, leitura da sua obra, pude constatar detalhes, curiosidades e delírios alucinados de um autor que domina o que escreve, conhece as raízes do samba e se deixa influenciar pela cadência do ritmo, cada vez mais marcada pelas baterias da emoção, dando asas ao ensinamento de mais uma faculdade.
Roberto Moura fala, no seu livro, sobretudo, das raízes do samba, o que o prende à cultura popular – hoje mais carioca -, além de suas origens.
“No princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido-alto e outros pagodes”, apresenta-se como referência em sua temática. Partindo do princípio de que a roda é anterior ao samba desde que este nasceu na casa de Tia Ciata, na Praça Onze, ganhou forma no Estácio e espalhou-se pelo subúrbio carioca ganhando várias e diferentes formas.
O “mestre” da hora, no sentido mais popular da palavra, não mediu esforços para mostra o dia-a-dia do novo samba, que foi dominado pela midiatização, contra-balanceando com o orgulho de viver as mais profundas tradições em torno desta dança.
Dos aspectos mais elucidativos do trabalho, destaco o modo como Roberto Moura relata o funcionamento de uma roda. A maneira de chegar numa reunião de bambas e de ser aceite como um par. Como diz João Pimentel, autor do release do livro, estes são aspectos tão bem exemplificados que só poderiam ter vindo de alguém que “há muito foi aceito na roda”.
“NO PRINCÍPIO, ERA A RODA”, editado pela Rocco e lançado já em janeiro, conta com 320 páginas de puro conhecimento e história de uma das danças – cultura – mais populares do Brasil, embora a sua raiz venha de outros mares.
Parafraseando Aristélio Andrade, o meu novo e simpático amigo de sempre - e, assim, espero – “‘No princípio, era a roda’ é um livro para quem gosta e curte samba. A roda de samba é o mais democrático exercício numa obra coletiva. Lá, além de se aprender a gostar do samba, de se admirar a destreza do verso dito na rima e no tempo certo, de aprender a bater o ritmo na palma da mão, guarda-se respeito ao mais competente e inteligente. E mais: amizade feita ali é puro aço, não termina nunca”, é assim que esse nordestino, membro da directoria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) – e torcedor fanático do GRES “Em Cima da Hora”, residente na cidade de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, dá uma de bamba e canta no tom certo o que se pode encontrar no ‘enredo do Moura’.
Já, para André Freire, médico que embarcou na vida de autor, também, com “A Certeza das Incertezas” (lançado duas vezes em Portugal), e que vive em Lamego, em uma das suas crónicas, aqui em terras de além-mar, o poeta afirma que os dois livros do Roberto devem ser “os livros de cabeceira que todos os amantes do samba deveriam possuir”. Neste contexto, o meu querido amigo mangueirense, e protector dos momentos mais “enfermos” de meus devaneios, lembra de outra obra-prima do nosso Moura: “Carnaval. Da Redentora à Praça do Apocalipse”, publicado em 1986 e que é um dos mais completos estudos sobre o Carnaval carioca.
Enfim, saudade do mestre que tantos ensinamentos nos deu, mas que hoje, mesmo que virtualmente, chega mais perto de nós e perpetua o que aprendeu a viver. “No princípio, era a roda” é uma leitura da história do samba, das maneiras de vivê-lo hoje, lembrando sempre que no princípio… agora e sempre… este folclore será eternamente imutável em suas raízes e tradições, embora, hoje, tenha mil fantasias e faça parte, para muitos, do verdadeiro sentido de viver a folia.

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