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quinta-feira, dezembro 16, 2004

Das terras do fado para o mais hard do Rock

Um festival típico brasileiro que leva consigo o nome da verdadeira cidade do Rock. O maior evento de música do mundo, em público e em artistas, tem, por obrigação, de ter uma ligação mais constante com seu público. Com ingressos a 53 euros cada, quem ousasse amar a música por seis dias desembolsaria pelo menos 318 euros. Mesmo sendo de cunho social “por um mundo melhor”, a cada passo que dávamos no recinto recebíamos um brinde dos patrocinadores. Até mesmo os lenços brancos que serviram de “estandarte da paz” durante os três minutos de silêncio, típicos do evento, vinham tingidos com propaganda. Quanto aos preços, uma simples camisa com o símbolo do festival custava 30 euros e um pequeno porta-chaves ou chaveiro se comprava por 5 euros.
O Rock In Rio 2004 foi marcado em Portugal por muita expectativa por parte dos portugueses e não só. Pessoas do mundo inteiro vieram assistir aos shows dos seus ídolos. Ingleses, franceses, espanhóis, portugueses, irlandeses e sobretudo brasileiros participaram do evento, assistindo desde fado a samba, de música electrônica a rock.
Números
Após três edições, o Rock In Rio ganhou maior idade e cruzou o oceano. O empresário Roberto Medina, pai da ideia, fez o evento desembarcar em Lisboa, capital portuguesa. A música ganhou um novo sotaque entre os dias 28 e 30 de maio e 4 e 6 de junho. A cidade do Rock contou com 220 mil metros quadrados distribuídos pelo parque da Bela Vista, ao norte da cidade, lugar que até o momento era desconhecido pela maioria da população lisboeta, já que se encontra num bairro um tanto quanto desfavorecido socialmente.
Público
Em termos de público, pode-se dizer que não foi um sucesso. A organização esperava contar com 600 mil pessoas, 100 mil por dia. No primeiro fim de semana, somente 150 mil foram aos shows, 50% abaixo do esperado. O último fim de semana foi mais populoso. Segundo números da organização, foram 385 mil os que cruzaram as portas do festival, número maior do que Woodstock.
Nos seis dias de festival, 26 bandas e 70 artistas subiram ao “Palco Mundo” e tocaram mais de 130 horas de música, 14 por dia. Na versão lusa do Rock In Rio, houve a "Tenda Raízes", onde se dava a volta ao mundo através da música. Surgiu também a "Zona Radical", área de prática de esportes. Não se assustem com a zona daqui, pois zona é o mesmo que “lugar” e é fácil encontrar quem diga que “minha filha vive numa zona boa”.
Novidades
Sabor a mais do festival foi passar os seis dias debaixo de um intenso calor que pairava sobre Lisboa. Como todo país europeu, as estações em Portugal são bem definidas. No verão é muito quente, mas mesmo nesta estação, todas as noites são um pouco frias. Sem falar que por aqui estávamos na primavera. Mas durante o festival, nada atrapalhou. Houve muito calor de dia e frio a noite. Os portões se abriam às 14hs e a cidade do rock adormecia às 4hs da manhã. Tantas horas e tanto calor revelaram a moda portuguesa, cada qual a seu dia. No dia dos metaleiros, dia 4, a roupa era adornada por fivelas e correntes prateadas. No dia teen do festival, dia 5, o colorido tomou conta da visão da cidade. E no dia família, dia 6 e dia 28, era fácil achar gente da geração dos artistas em palco.
Segurança
Sobre as diferenças de "cá" p'rai, uma delas é que, por aqui, a "TendaElectrónica" ostentou um "c" mudo, mas o ritmo foi o mesmo. Quanto à segurança, Lisboa foi aprovada. Não houve incidentes graves, apenas uma carteira foi roubada durante a apresentação de uma banda de Rock portuguesa, os “Xutos e Pontapés”. No Brasil, também tivemos essa preocupação, mas em proporções diferentes. Em Portugal a preocupação é outra. Aqui nas estações do metro – lê-se métro – éramos alertados para "guardarmos bem nossa bagagem, pois qualquer objecto encontrado abandonado será destruído pelas forças de segurança". O que preocupa a todos são os atentados terroristas, o que explica os 51 detectores de metais nos acessos e as centenas de polícias que faziam a segurança. Depois dos ataques a Madrid e das supostas "ameaças" a Portugal, deve ser esse o motivo que afastou alguns portugueses do evento. Já que logo após ao sucedido na Espanha, as forças armadas portuguesas sugeriram ao povo que “não se envolvessem em eventos que atraíssem grandes multidões”.
Ponto positivo da realização do evento foram os acessos. Havia várias ligações de todos os lados de Lisboa, por trem e por metro, até à cidade do Rock. Nas últimas edições do Rock In Rio, nenhum artista português havia pisado no “Palco Mundo”, já em Lisboa, foram seis os brasileiros que o fizeram, somente no palco principal, foram eles: Affro Reggae, o ministro da cultura Gilberto Gil, Charlie Brown Jr., Sepultura, Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Além dos brasileiros que se apresentaram nas tendas.
Profissionais
A produção desta quarta edição do Rock In Rio contou com 101 pessoas envolvidas, sendo 37 brasileiros e 64 portugueses. Cerca de 700 jornalistas de todo o mundo fizeram a cobertura do evento, com predomínio de brasileiros e espanhóis, que viram em Alejandro Sans a primeira oportunidade de um artista espanhol apresentar-se num Rock In Rio.
Na conferência de imprensa realizada no último dia na “Tenda Vip”, o balanço do evento foi "muito positivo". Por isso, Roberto Medina e Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara de Lisboa - equivale a prefeito – anunciaram para 2006 o próximo Rock In Rio, ainda em Lisboa, onde terá frequência bienal. Santana Lopes chegou a admitir saber o que é uma marca, mas alertou Medina de que “seria bom mudar o nome do festival de Rock In Rio para Rock In Lisboa vindo do Rio". Ora, o nome é o que menos importa frente ao festival. Se é ou foi por um mundo melhor, deixamos o nome de lado, mas seria estranho, pois pelo que sabemos, o festival não abandonou o Rio, apenas foi turista em Portugal. Mas se apaixonou por Lisboa – e dou-lhe razão- e parece querer tirar largas férias por aqui.
Local de trabalho
A sala de imprensa estava todos os dias lotada de profissionais do mundo inteiro de rádio, televisão, jornal, revista e internet. A língua ajuda mas não em todas as situações. Bastou a assessora da produção, que é brasileira, pedir um durex, que uma portuguesa segurou o riso. Em Portugal, o certo é fita-cola, pois durex é o mesmo que preservativo para nós.
De acordo com fontes ligadas a organização do festival, as pretensões de Roberto Medina são de que o evento aconteça em simultâneo 24hs no mundo, nas cidades do Rio, Lisboa, Nova Iorque e Sidney.
A notar que o parque da Bela Vista situa-se perto duma das cabeceiras de pista do aeroporto internacional de Lisboa, o da Portela, lembra-nos que o festival ganhou asas e começou a trilhar sua carreira internacional. E teve um bom começo. A língua ajudou. Ou quase. Certo é que o Rio de Janeiro criou um filho e, como tal, criou-o para o mundo.

Igor Lopes

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